segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Fernando Pssssoaaaa

poema em linha reta


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos tem sido campeões em tudo.

E eu,tantas vezes reles,tantas vezes porco,tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciencia para tomar banho,

Eu,que tantas vezes tenho sido ridículo,absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,]

Que tenho sido grotesco,mesquinho,submisso e arrogante,
que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado,tenho sido mais ridiculo ainda;
Eu,que tenho sido comico as criadas do hotel,
Eu,que tenho sentido piscar os olhos dos moços dos fretes,
Eu,que tenho feito vergonhas financeiras,pedido emprestado sem pagar,

Eu,que,quando a hora do soco surgiu,me tenho agachado
para fora da possibilidade do soco;
Eu,que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisso tudo,neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo,nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe-todos eles príncipe-na vida....

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado,mas uma infâmia;
Que contasse,não uma violencia,mas uma covardia!
Não,são todos o Ideal,se os ouço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

ó princípes,meus irmãos,

Arre,estou farto de semideuses!
Onde é que a genteno mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nessa terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos-mas ridículos nunca!
E eu,que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu,que tenho sido vil,literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Nenhum comentário:

Postar um comentário