sexta-feira, 26 de março de 2010


O Teatro do absurdo nasceu do Surrealismo, sob forte influencia do drama existencial. O Surrealismo, que explora os sentimentos humanos, tecendo criticas a sociedade e difundindo uma ideia subjetiva a respeito do obscuro e daquilo que nao se ve e nao se sente, foi fundamental para o nascimento desse genero que buscava, na segunda metade do seculo XX, representar no palco a crise social que a humanidade vivia, apontando os paradigmas e os valores morais da sociedade como fatores principais da crise. A principal fonte de inspiracao dos dramas absurdos era a burguesia ocidental, que, segundo os teoricos do Absurdo, se distanciava cada vez mais do mundo real, por causa de suas fantasias e ceticismo em relacao as conseqencias desastrosas que causava ao resto da sociedade.
Como o proprio nome diz, o Teatro do Absurdo propoe revelar o inusitado, mostrando as mazelas humanas e tudo que e considerado normal pela sociedade hipocrita. Essa vertente desvela o real como se fosse irreal, com forte ironia, intensificando bem as neuroses e loucuras de personagens que, genericamente, divulgam o homem como um psicotico, um sofredor, um ser que chega as ultimas conseqencias, culminando sempre na revolucao, no atrito, na crise e na desgraca total. Extremamente existencialista, o Absurdo critica a falta de criatividade do homem, que condiciona toda a sua vida aquilo que julga ser o mais facil e menos perigoso, se negando a ousar, utilizando-se de desculpas para justificar uma vida mediocre.
O Teatro do Absurdo foca principalmente o comportamento humano, deflagrando a relacao das pessoas e seus atos concomitantes. O objetivo maior desse genero e promover a reflexao no publico, de forma que a maioria dos roteiros absurdos procuram expor o paradoxo, a incoerencia, a ignorancia de seus personagens em um contexto bastante expressivo, tragico, aprofundado pela discussao psicologica de cada personagem apresentado, com uma nova linguagem. Para Ionesco, Membro da Academia Francesa, autor de um dos primeiros espetaculos absurdos, como A Cantora Careca (1950), renovar a linguagem, e renovar a concepcao, a visao do mundo. Essa linguagem e traduzida nao so nas palavras de cada um dos personagens, e sim em todo o contexto inovador, pois cada elemento no Teatro do Absurdo influencia a mensagem, inclusive os objetos cenicos, a iluminacao densa e utopica, alem dos figurinos. Todos esses elementos materiais do espetaculo contribuem para o enriquecimento da mensagem que deve ser clara para nao haver duvidas por parte do publico. A ironia constitui-se numa figura de linguagem extremamente dificil de ser praticada no palco, pois, exagerada ou mal formulada, pode ganhar um sentido contrario aquele intencionado pelo diretor. Um outro fator importante e que, no Teatro do Absurdo, muitas vezes o cenario, o figurino e a nuancas nas interpretacoes se tornam ainda mais importantes do que o proprio texto. O texto em si promove uma nova leitura, cuja concepcao tornara possivel a construcao cenica dentro de um vies preferido pelo diretor.
Um dos autores de vanguarda do Teatro do Absurdo e Samuel Beckett autor do classico Esperando Godot, que conta a historia de dois personagens que esperam ansiosos por ajuda numa terra onde nada acontece de inovador, onde tudo se repete sem cessar, obrigando os angustiados personagens a tentar iludir a tristeza e frustracao. Esse texto traduz perfeitamente a essencia do Absurdo, sendo Beckett uma pessoa que, desde jovem manifestava seu dom a rebeldia, sendo um homem contrario a religiosidade, mesmo sendo de familia protestante, alem de ser um homem adepto a revolucao dos costumes. O Absurdo, assim como o Dadaismo, promoveu a revolucao na linguagem e na ideologia da sociedade, obtendo muitas criticas de um publico que, apesar de proletario, consumia o idealismo burgues da epoca. Harold Pinter (1930- ), autor de Velhos Tempos, O Zelador, A Colecao e o autor americano Edward Albee (1928 - ), autor de Quem Tem Medo de Virginia Woolf, buscaram a orientacao absurda para tecer suas criticas em favor das classes menos favorecidas, constituindo obras anti-literarias, com o mesmo brilhantismo de Ionesco e Beckett (que ganhou o Premio Nobel em 1969), com identidades proprias que lhes deram lugar de destaque na historia da arte dramatica.
A partir das ideologias de Artaud de quebra com os paradigmas classicos do teatro ocidental, surgiu o Teatro Panico, uma forma de Teatro do Absurdo calcado no drama e em contextos que mostram a revolta do autor perante o mundo. Apesar de possuir algumas ideias artaudianas, o Teatro Panico mantem elementos basicos do teatro ocidental, como o dialogo de seus personagens. Esse genero foi essencial para reafirmar o Teatro do Absurdo como vertente teatral, propondo a forma agressiva de expor seus personagens numa critica mordaz contra a sociedade, onde homens e mulheres vivem suas vidas num limite extremo, sempre numa virtual solidao.
A concepcao de Teatro Panico nasceu em fevereiro de 1962, em Paris, e misturava terror com humor. A filosofia panica diz que a memoria e fundamental para o homem, pois esse nao passa de um grande fundo de saberes que, com o passar dos anos, compoe um quadro estetico, etico e moral. Na visao de um dos principais diretores do Teatro Panico, o espanhol Fernando Arrabal, autor de A Guerra dos Mil Anos, o Panico mistura a vida privada com a vida artistica, o lirismo e a psicologia, onde o teatro passa a ser encarado como um jogo, ou uma festa. Muitos associaram o Panico com o Dadaismo, genero que contesta a razao em prol do subjetivo. Dessa forma, os espetaculos panicos propoem, acima de tudo, uma linguagem extremamente transcendental em relacao aos temas abordados. Nada disso poderia ser possivel sem a estruturacao do Teatro do Absurdo que possibilitou no homem uma evolucao no que se diz respeito aos seus dogmas.
http://kuarteto.br.tripod.com/teatralizando/id3.html

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